A mesa.

Em recente conversa, sobre a disposição de se alcançar sucesso ou o sonho de vida, ocorreu-me uma lembrança muito forte e presente, pois faz até hoje, parte da minha trajetória, profissional e como ser humano; minha primeira mesa como dentista, recém formado.

Volto no tempo, para uma pequena explanação, pertinente ao tema.

Lembro-me da primeira mesa que ficou marcada em minha vida, foi uma pequena e simples mesa de cozinha onde, além de minhas primeiras refeições, era um lugar de brincadeiras. Eu e mais tarde, meu irmão, fazíamos acampamentos debaixo dela. Cobríamos seu tampo com um lençol e ficávamos embaixo “acampando”, contando histórias imaginarias e comendo as guloseimas que tínhamos disponíveis em casa.

Eram tempos de muita felicidade.

Com o passar dos anos, mudamos a mesa, trocamos por mesas mais requintadas; ainda brincávamos, mas havia outras finalidades para seu uso, refeições com toda a família, a união, as conversas, os acertos necessários, enfim a unidade familiar.

Fomos crescendo, mas os encontros na mesa de casa foram ficando mais difíceis.

As crianças da casa já eram jovens, cresciam por conta própria. Muitas vezes, tínhamos que marcar dia e hora, para nos reunirmos como antes.

Ainda era a mesa da casa, um ponto forte de reunião familiar. Algumas boas, outras nem tanto, mas éramos uma família.

A importância, o respeito, e o entendimento do significado da “mesa” na vida de cada um, fora compreendido.

Quando me formei, comprei minha primeira mesa de trabalho. Não tinha muito dinheiro, ou melhor, tinha bem pouco. Era um tempo onde ainda não entendia a questão mercadológica, nem me importava em impressionar alguém.

Fui à busca dela, numa loja de móveis usados, no centro da minha cidade. Achei a mesa e a cadeira, no valor exato que eu tinha.  Colei suas lascas de madeira, pintei seus pés, passei graxa para igualar a cor. Estava feliz, realizado pela compra e recuperação que fiz em minha primeira mesa. Não tinha a exata dimensão e nem me importava, com o que os pacientes poderiam pensar sobre ela.

Havia um orgulho enorme em ter conseguido minha primeira mesa.

Essa mesa me trouxe vários pacientes, consegui ganhar meus primeiros honorários como dentista. Os pacientes estavam próximos ao profissional. Não havia distanciamento entre nós, minha mesa colaborava para isso.

Quando consegui ganhar um pouco mais, fiz minha primeira troca de aparelhos do consultório, comprei uma mesa maior; mas ainda assim, era simples, só que dessa vez, nova. Foi um grande salto para mim.

Tornava-me mais profissional, mantinha uma aparência melhor, que sabia ser importante no dia a dia.

A mesa é um lugar sagrado, dentro da sua casa, no trabalho ou em qualquer ambiente que esteja.

Deveríamos prestar mais atenção ao teor de nossas conversas, às pessoas que se sentam junto a ela, e acima de tudo, respeitar cada momento em torno da mesma.

Minha mesa atual tem 16 anos, eu a adoro, é clássica e me trouxe inúmeras alegrias. Nessa compra houve um fato interessante; quase comprei a mesa errada.

O proprietário da loja estava me atendendo e insistia  na venda de uma mesa muito imponente, fria, enorme. Era tão grande que, de um lado para o outro, não havia chance de um aperto de mão. O tampo era enorme e distanciava as pessoas.

E foi isso que ocorreu na hora de despedir-me do proprietário da loja, não consegui chegar até o aperto de mão.

Mesmo com todos os apelos comercias do dono, percebi que aquela mesa não era para mim.

Definitivamente, esse distanciamento para com as pessoas, não é a forma de eu lidar com meus pacientes e pessoas que recebo.

Comprei uma menor, essa que tenho até hoje, e que não vejo necessidade, nem tenho vontade, de trocar.

Estas palavras, com muitas informações pessoais, foram escritas para valorizar o quanto é importante conviver, olhar, ouvir, receber, estar próximo e conectado com as pessoas que se sentam em torno de nós, partilhando a intimidade de uma mesa.

Não importa o tamanho da mesa, o material estrutural, ou a beleza, o que vale, são as condições humanas que cercam os relacionamentos. Cada vez mais, devemos recorrer ao que era comum e importante em nossa vida familiar. As refeições em família, as reuniões com amigos e parentes, as conversas para acertos necessários, enfim a convivência com as pessoas que amamos e fazem parte da nossa vida cotidiana, ou não.

Não precisamos de mesas imponentes, precisamos de mesas com pessoas adoráveis.

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